Familiares do sargento Rulian Ricardo da Silva estiveram presentes na sessão da Câmara Municipal de Franca nesta terça-feira (6) para denunciar as falhas na apuração do crime que vitimou o policial militar, ocorrido em abril de 2023. A investigação segue aberta, sem uma conclusão até o momento.
De acordo com a versão oficial da Polícia Militar (PM), o sargento Rulian teria se envolvido em uma discussão com uma policial militar sobre a escala de plantão na 4ª Companhia do 46º Batalhão da Polícia Militar Metropolitano (BPM/M), no Jardim Santa Emília, zona sul de São Paulo. Ele estaria indignado por não poder passar o feriado de Páscoa em Franca.
Na versão da PM, ao chegar ao local, o capitão Laroca, comandante da unidade, teria confrontado o sargento sobre o ocorrido. Em seguida, o sargento, ainda segundo a versão oficial, teria apontado um revólver calibre 32 de uso pessoal em direção ao comandante, que então teria disparado três tiros contra ele. O cabo Rizzo, motorista do capitão, também teria efetuado um disparo.
O sargento Rulian foi atingido no pescoço e no tórax, morrendo no local. As armas usadas pelos autores foram apreendidas à época.

Versão contestada: Família denuncia execução
A família de Rulian, no entanto, contesta essa versão oficial. Peritos contratados pela família realizaram uma apuração paralela que aponta uma linha de investigação diferente. Segundo essa versão, o sargento estaria deitado em sua beliche e com as pernas cruzadas quando foi surpreendido e baleado, sem chance de defesa, enquanto dormia no alojamento. Acredita-se que ele tenha sido executado enquanto estava vulnerável.
A advogada Pâmela Salgado Stradiotti, que defende a família, denuncia que a investigação oficial não foi concluída devido à falta de um laudo de perícia. O laudo, que diz respeito à simulação realizada no quartel, foi feito há mais de um ano, mas ainda não foi entregue à Corregedoria da PM.
Em depoimento, a advogada revelou que o sargento havia feito apreensões de máquinas caça-níqueis, o que teria gerado ameaças contra ele por parte de oficiais da PM. “Ele foi morto enquanto dormia no alojamento, e, após a morte, colocaram uma arma que sequer funcionava no corpo dele. A arma de uso dele, uma .40, estava trancada no armário”, afirma Pâmela.
A irmã do sargento, Daiane, também se manifestou: “Como morto não fala, fizeram a história dele como não é…”. Ela criticou o silêncio do governador Tarcísio de Freitas e do secretário de Segurança Pública, Guilherme Muraro Derrite, que não se pronunciaram sobre o caso. “O capitão Laroca segue em sua vida normal, podendo até ser promovido a major. Isso é cruel de ver”, lamentou Daiane.
Vereadores cobram respostas das autoridades
Durante a sessão da Câmara Municipal de Franca, vereadores se comprometeram a cobrar uma posição das autoridades em relação ao caso. “É preciso dar uma resposta à sociedade. A impunidade não pode imperar”, afirmou Gilson Pelizaro (PT). Walker Bombeiro, outro vereador, também expressou seu apoio à família e afirmou: “O Rulian era meu amigo, e o capitão Laroca não representa a Polícia Militar.”

Legítima defesa: a versão de Laroca
Em sua defesa, o capitão Laroca alegou à época que atirou em legítima defesa, mas não foi preso em flagrante e segue em liberdade enquanto o caso não tem um desfecho.
Laroca, natural de Araraquara, foi candidato a vereador na cidade de São Paulo pelo PSB nas eleições de 2020, mas não foi eleito, ficando como suplente. Em sua plataforma de campanha, ele se definia como “cristão, armamentista, defensor da família e protetor das crianças”.